Para além do universo de Akram
Até o dia 3 de dezembro, o Ministério da Cultura e a Associação Cultural Videobrasil apresentam no Galpão VB a primeira exposição individual do artista libanês Akram Zaatari no Brasil. Amanhã vai ficar tudo bem (Tomorrow Everything Will Be Alright) marca uma colaboração de exatos vinte anos entre o artista e a Associação. Uma série de atividades e programas públicos vai acontecer durante o período da mostra, com a participação de artistas, curadores e pesquisadores, afim de explorar diálogos e pontos de conexão entre a produção de Zaatari e a de artistas brasileiros.
História, registros, práticas fotográficas, desejo, trabalho e relações humanas estão entre as principais temáticas de Zaatari, que desenvolve uma produção constituída por filmes, fotos, textos e outros formatos. Seus trabalhos tratam de grandes acontecimentos da história em que o autor está inserido, e como tal podem ser lidos como um relato histórico subjetivo do Líbano contemporâneo. As obras em si exploram questões relacionadas ao amor – ou à sua perda –, à auto-representação, ao cobrimento e ao descobrimento do corpo, à natureza efêmera do desejo e à manifestação de tudo isso em tempo real, em forma de sedução, orgulho e machismo, no contexto da tecnologia de comunicação em mutação, a internet. Seu trabalho nos estimula a observar os mecanismos das relações humanas, a intimidade entre homens e o amor entre pessoas do mesmo sexo num contexto árabe. A obra de Zaatari permite que o social descreva o urbano, que a memória ocupe o desejo e que o desejo escreva a história.
No dia 5 de setembro (segunda), às 20h, será realizada a primeira atividade dos Programas Públicos. “Amanhã vai ficar tudo bem” é uma conversa conduzida pelo pesquisador e curador Moacir dos Anjos com Akram Zaatari, tomando emprestado o título da exposição acerca da poética do artista, a partir dos trabalhos apresentados no Galpão. A partir de outubro, sempre às quintas-feiras, o professor do Departamento de Letras Orientais da USP Michel Sleiman vai ministrar o curso “Ficções e verdades nas narrativas do Líbano Pós-Guerra”, tendo como foco a atual produção literária, ensaística e artística libanesa. Abaixo, mais informações sobre inscrições. Neste mesmo mês, no dia 15 de outubro, a arquiteta, artista e designer Carla Caffé ministra a oficina de desenho de investigação “CEAGESP, da rua aos personagens”, propondo uma atividade de exploração da Vila Leopoldina, com foco especial na área do Centro de Abastecimento – território bastante representativo da discussão acerca do processo de gentrificação do bairro, com base em questões levantadas pela obra de Akram Zaatari.
No dia 5 de novembro, às 15h, o cineasta Carlos Nader, o pesquisador Eduardo de Jesus e Solange Farkas, diretora do Videobrasil e curadora da exposição de Zaatari, participam de encontro que marca o lançamento da publicação Amanhã vai ficar tudo bem, que reúne ensaios críticos em torno da obra de Akram Zaatari, constituindo-se como o primeiro livro de referência sobre o artista editado no Brasil. E, por fim, nos dias 19 e 26 de novembro, a “Oficina Vulnerabilidade e Alteridade” tem condução do artista Gui Mohallem que, assim como Akram Zaatari, possui obras que partem de experiências pessoais para ganhar contornos de alteridade. Na oficina, os participantes serão convidados a acessar suas próprias questões mais íntimas e instigados a compartilhá-las por meio de exercícios práticos.
Saiba mais sobre cada uma das atividades dos programas públicos:
1. Amanhã vai ficar tudo bem
Com Akram Zaatari e Moacir dos Anjos
Data: 05 de setembro, segunda, às 20h
Entrada gratuita
Uma conversa com Akram Zaatari conduzida pelo pesquisador e curador Moacir dos Anjos acerca da poética do artista a partir dos trabalhos apresentados na exposição Amanhã vai ficar tudo bem.
Akram Zaatari
Akram Zaatari produziu mais de quarenta vídeos, uma dúzia de livros e inúmeras instalações fotográficas, sempre abordando práticas, personagens e temas interligados e relacionados à escavação, à resistência política, à vida de ex-militantes de esquerda, à intimidade entre homens e à circulação de imagens em tempo de guerra. Zaatari desempenhou um papel fundamental na construção da infraestrutura formal, intelectual e institucional da cena de arte contemporânea de Beirute. Foi um dos poucos artistas jovens surgidos no breve período de experimentação da indústria televisiva libanesa, radicalmente reorganizada após a guerra civil no país. Cofundador da Fundação Árabe para a Imagem, uma organização pioneira liderada por artistas e dedicada a pesquisar e estudar a fotografia na região, Zaatari fez grandes contribuições ao discurso mais amplo sobre a preservação e as práticas de arquivo, sem nunca fazer concessões. Desde 2004, concentra seus estudos no arquivo do estúdio Shehrazade, fundado pelo fotógrafo Hashem el Madani. Zaatari representou o Líbano na Bienal de Veneza em 2013, participou da Documenta 13 (2012), da Bienal de Istanbul (2011) e da Bienal de São Paulo (2006). Alguns de seus trabalhos integram as coleções da Tate Modern, Centre Pompidou, Kadist, MoMA e MCA Chicago. Vive e trabalha em Beirute, Líbano.
Moacir dos Anjos
Moacir dos Anjos (Recife, Brasil, 1963) é pesquisador e curador de arte contemporânea da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Foi diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM (2001–2006) e pesquisador visitante no centro de pesquisa TrAIN – Transnational Art, Identity and Nation, em Londres (2008–2009). Foi curador da Bienal de São Paulo (2010) e das mostras Cães sem Plumas (MAMAM, 2014) e A Queda do Céu (Paço das Artes, 2015). É autor dos livros Local/global – arte em trânsito (Zahar, 2005) e Arte Bra Crítica (WMF Martins Fontes, 2010), além de editor do Caderno Videobrasil 8: Pertença (2013).
2. Curso Ficções e verdades nas narrativas do Líbano Pós-Guerra
Com Michel Sleiman
Datas: quintas-feiras do mês de outubro (dias 6, 13, 20 e 27)
Horário: das 20h às 22h30
Ministrado por Michel Sleiman, professor do Departamento de Letras Orientais da USP, o curso Ficções e verdades nas narrativas do Líbano Pós-Guerra tem como foco a atual produção literária, ensaística e artística libanesa. Poetas, romancistas, fotógrafos, artistas e curadores constroem um discurso de recuperação da memória e da história recentes do país, assolado por uma sangrenta guerra civil (1975–1990) que nunca esteve desvinculada das questões mais amplas do Oriente Médio. Com quatro encontros, o curso abordará tópicos como “liberdade e direitos humanos”, “religiosidade e laicismo”, “verdade e ficção” e “discursos e fronteira de gêneros”.
Público alvo: pesquisadores, curadores, educadores, artistas, estudantes e demais interessados
Número de vagas: 15
Carga horária: 4 encontros, somando 10 horas.
Valor de investimento e formas de pagamento: R$ 150,00 à vista (depósito/transferência bancária)*
Inscrições e informações: [email protected] ou pelo telefone (11) 3645-0516
*A desistência após o início da oficina ou o não comparecimento do inscrito aos encontros desta oficina não o exime de pagamento, tendo em vista o serviço colocado à sua disposição
Michel Sleiman
Michel Sleiman nasceu em 1963 em Santa Rosa-RS, e se formou em Letras em Santa Maria (UFSM) e Porto Alegre (UFRGS). Fez estudos de árabe em Beirute, Damasco e no Cairo. Completou os estudos de pós-graduação na USP, onde leciona atualmente Língua e Literatura Árabe no Departamento de Letras Orientais e nos programas de pós-graduação em Estudos Árabes e em Estudos da Tradução. Tem pesquisas sobre a poesia andalusina escrita nos dialetos árabes e românicos locais de Alandalus, sobre a qual publicou A Poesia Árabe-Andaluza: Ibn Quzman de Córdova (Perspectiva, 2000) e A Arte do Zajal: ensaio de poética árabe (Ateliê, 2008). Tem traduções ao português de suras do Alcorão e de poemas do palestino Mahmoud Darwich, do sírio Adonis e do libanês Unsi El-Hajj, e traduções ao árabe de poemas de Waly Salomão e Haroldo de Campos. Criou e dirige a Revista Tiraz de estudos árabes e das culturas do Oriente Médio (Departamento de Letras Orientais da USP). Coordena o Grupo de Tradução da Poesia Árabe Contemporânea, na USP. Foi presidente do Instituto da Cultura Árabe, em São Paulo, entre 2009 e 2012 e curador do espetáculo anual Diwan de Literatura e Arte entre 2005 e 2008. Publicou poemas de sua autoria nas revistas Coyote, Zunái, Poesia Sempre e Granta e o livro Ínula Niúla (Ateliê, 2009).
3. Oficina de desenho: CEAGESP, da rua aos personagens
Com Carla Caffé
Data: 15 de outubro, sábado, das 11h às 14h30
Esta oficina de desenho de investigação propõe uma atividade de exploração da Vila Leopoldina, com foco especial na CEAGESP – território bastante representativo da discussão acerca do processo de gentrificação do bairro, que transforma visivelmente sua paisagem urbana e humana. Com base em questões levantadas pela obra de Akram Zaatari e auxiliados por um mapa produzido pela artista Carla Caffé, os participantes serão estimulados a registrar o percurso do Galpão VB até a CEAGESP, levando em conta não só as características físicas do espaço urbano, mas também as relações interpessoais que ali se estabelecem.
Público alvo: artistas, arquitetos, ilustradores, designers, desenhistas e estudantes destas áreas(maiores de 16 anos)
Número de vagas: 20 (por ordem de inscrição)
Carga horária: 3h30
Investimento: gratuito
Para participar: inscrições por ordem chegada, enquanto houver vagas, das 10h30 às 11h.
Carla Caffé
Formada em arquitetura, trabalha com ilustração, design gráfico, arte, teatro e cinema. Participou de importantes mostras coletivas como a IV e a X Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Em suas pesquisas artísticas têm-se dedicado à cartografia paulistana. Sua última exposição foi na galeria Carbono. No cinema, trabalha como diretora de arte em longa-metragem, entre outros, Central do Brasil (Walter Salles) e Narradores de Javé (Eliane Caffé). Atualmente prepara toda a identidade visual do filme Era o Hotel Cambridge, lançamento previsto para 2017, do qual também fez a direção de arte. É autora do livro de artista A(e)rea Paulista, publicado pela Galeria Vermelho, Av. Paulista, pelas editoras Cosac Naify e SESC Edições e São Paulo na linha, pela editora DBA. Atualmente é professora de desenho da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Escola da Cidade e das oficinas do SESC Pompeia.
4. Lançamento do livro Amanhã vai ficar tudo bem
Com Carlos Nader, Eduardo de Jesus e Solange Farkas
Data: 05 de novembro, sábado, às 15h
Entrada gratuita
Em ocasião do lançamento do livro da exposição Amanhã vai ficar tudo bem, do artista libanês Akram Zaatari, uma conversa em torno da presença libanesa no cenário e na produção artística do Brasil reúne três olhares sobre a questão: artístico, curatorial-institucional e acadêmico.
Carlos Nader
Experimentando e cruzando linguagens, que vão da vídeoarte ao documentário, Nader é um realizador com forte apelo ensaístico. Preocupado com a complexidade da cultura contemporânea brasileira e sua dimensão midiática, busca na investigação de determinados personagens – anônimos, personalidades e artistas – os mais variados traços de identidades urbanas. De natureza documental, Beijoqueiro (1992) foi um dos vídeos nacionais mais reconhecidos da década de 1990, ao sintetizar em sua produção características comuns à sua geração. Na sequência, realizou os filmes Trovoada (1995), vencedor no Videokunstpreis em 1998, O Fim da Viagem (1996) e Carlos Nader (1998), vencedor do Grande Prêmio de Cinema Brasil de 2000. Nesse último, o conceito de autobiografia é desconstruído ao misturar sua própria imagem com depoimentos de travestis, filósofos, poetas e bandidos. Ao longo dos anos 2000, Nader concentrou suas atividades no exterior, onde dirigiu documentários e criou vídeoinstalações para centros culturais locais, participando de diversos festivais e exposições coletivas. Realizou uma série de outros filmes, como: Concepção (2001), Flor da Pele (2002), Cross (2003), RBS: 50 anos da televisão no Brasil (2007), Pan-Cinema Permanente (2008), Chelpa Ferro (2009), da série Videobrasil Coleção de Autores, e Eduardo Coutinho – 7 de outubro (2013). Recentemente ganhou, consecutivamente, os prêmios de Melhor Documentário Brasileiro de Longa-metragem nas duas últimas edições do Festival É Tudo Verdade pelos filmes Homem Comum (2014) e A Paixão de JL (2015), este último também premiado no 37º Festival de Havana, em 2016. No início de sua trajetória, editou as revistas Caos, de 1987 a 1989, e Circuit, em 1990. Vive e trabalha em São Paulo.
Eduardo de Jesus
É graduado em comunicação social pela PUC Minas, mestre em comunicação pela UFMG e doutor em artes pela ECA-USP. É professor do programa de pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas. Atuou em diversas edições do Festival Videobrasil e em projetos da Associação Cultural Videobrasil. Entre suas curadorias estão FIF – Festival Internacional de Fotografia (Belo Horizonte, 2013 e 2015), esses espaços (Belo Horizonte, 2010), Densidade Local, em parceria com Gunalan Nadarajan, para o Festival Transitio-MX (Cidade do México, 2008) e Mostra Fiat Brasil (2006). Tem publicado textos, ensaios e resenhas em torno da produção artística contemporânea.
Solange Farkas
Solange Farkas é curadora e diretora da Associação Cultural Videobrasil. Em 1983, criou o Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, evento de que é também curadora-geral e que se tornou referência para a produção artística do Sul Global. Foi responsável por trazer ao Brasil exposições como as de Sophie Calle (Cuide de Você, 2009), Joseph Beuys (A Revolução Somos Nós, 2010) e Isaac Julian (Geopoéticas, 2012), do qual também foi curadora. Como curadora convidada, participou da 10ª Bienal de Charjah (Emirados Árabes Unidos, 2011), da 16ª Bienal de Cerveira (Portugal, 2011), da 5th Videozone: International Video Art Biennial (Israel, 2010) e do 6th Jakarta International Video Festival (Indonésia, 2013), entre outros.
Entre os destaques de seus 25 anos de carreira como curadora estão exposições como a mostra Contemporary Southern Hemisphere Videoart, participante do 9º Ayoul Festival (Beirute, Líbano, 1999); a Mostra Pan-Africana de Arte Contemporânea (Salvador, Brasil, 2005); La Mirada Discreta: Marcel Odenbach & Robert Cahen (Buenos Aires, Argentina, 2006); Suspensão e Fluidez (ARCO, Madri, 2007); e a Mostra Africana de Arte Contemporânea (São Paulo, Brasil, 2000), em parceria com Clive Kellner.
Em 2003, convidou Akram Zaatari e Christine Tohme para organizarem o evento de arte do Líbano Narrativas Possíveis, integrando a programação do 14º Festival. Compreendendo mostra de vídeos, exposição e palestras, o evento abriu caminho para uma intensa representação de artistas libaneses no Festival.
Em 2015, Solange Farkas foi convidada a integrar o comitê de conteúdo do UN Live Museum, o Museu pela Humanidade da Organização das Nações Unidas (ONU).
5. Oficina Vulnerabilidade e Alteridade
Com Gui Mohallem
O trabalho de Gui Mohallem, assim como a obra de Akram Zaatari, parte de experiências pessoais para ganhar contornos de alteridade. A partir da análise dos trabalhos dos artistas, os participantes serão questionados: que cenários, experiências e desdobramentos podem surgir a partir de uma história pessoal? Os participantes serão convidados a acessar suas próprias questões mais íntimas e instigados a compartilhá-las por meio de exercícios práticos.
Datas e programa:
A oficina acontece em dois dias:
Dia 1: 19 de novembro, sábado – às 16h, visita à exposição; das 17h às 21h, atividades em grupo e individuais e discussão de processo criativo
Dia 2: 26 de novembro, sábado – das 17h às 21h, atividade prática, avaliação da produção dos alunos e discussão de referências
Público alvo: artistas, pesquisadores, educadores e estudantes dessas áreas
Número de vagas: 15*
Carga horária: 9 horas
Investimento: gratuito
Para participar: enviar até às 18h (horário de Brasília) do dia 10 de novembro de 2016 para o e-mail [email protected] com o assunto “Vulnerabilidade e Alteridade”:
1. Formulário devidamente preenchido (clique aqui para baixar);
2. Minibio;
3. Um texto ou uma imagem que traduza para você “o que é o estado de vulnerabilidade”.
A confirmação dos selecionados será feita diretamente por e-mail e/ou telefone.
*A oficina será realizada mediante preenchimento de número mínimo de vagas
Gui Mohallem
(Itajubá, MG, 1979) Questões de pertencimento e identidade permeiam o trabalho de Gui Mohallem há algum tempo. Após participar de uma residência de seis semanas no Líbano, contemplada pelo Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do MinC, em 2012, o artista entrou em contato direto com aspectos do exílio, passando a compreender suas origens e também características identitárias de membros de sua família. Graduado em Cinema e Vídeo pela ECA-USP, expôs pela primeira vez em uma individual em Nova York, em 2008. Nos anos seguintes, teve exposições no MuBE, no Sesc Pompeia e nas galerias Olido, Babel, Baró Cruz, Luciana Caravello e Emma Thomas. Expôs também nos EUA, na Islândia e na Estônia, participou do programa Descubrimientos, do Photoespaña, e do 18º Festival Sesc_Videobrasil. Em 2011, ganhou o 2º lugar no prêmio Conrado Wessel. Participou de programas de residência artística em São Paulo e em Beirute, no Líbano. Tem dois livros publicados, Welcome Home (2012) e Tcharafna (2014). Foi palestrante nos principais festivais de fotografia do país e suas obras estão em importantes coleções, como Itaú Cultural, Videobrasil, Centro Cultural São Paulo, Luiz Chrysostomo, Nilo Cecco, Fernando Abdalla, Alfredo Setúbal, entre outros.